sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Vida ou game?



A pauta da semana de inúmeros jornais, sites de notícias e conversas informais foi somente uma: a violência no Rio de Janeiro. Depois de anos de tolerância, as instituições de segurança pública do Rio finalmente resolveram se articular para conter e tentar refrear a ação dos traficantes nos morros cariocas, não por obrigação legal, mas induzidos por força de acontecimentos-limite promovidos pelos próprios criminosos.

A barbárie da situação carioca transbordou para os games desde o final do ano passado, no aclamado Call of Duty: Modern Warfare 2. A produtora Activision fez questão de incluir o Rio de Janeiro em alguns estágios do jogo, dada a forte inspiração nos conflitos urbanos modernos. Na edição de número 95 da revista EGW, a Activision se pronunciou acerca das polêmicas do game apontando que “Modern Warfare 2 é um jogo fictício de ação feito com uma jogabilidade intensa e realista que reflete os conflitos da vida real, semelhante aos filmes de ação”. Mais um jogo violento? Nem tanto se comparado às cenas da vida cotidiana.

O Rio dos americanos

Tropas do exército americano, em ação no Rio de Janeiro, procuram informações sobre a atuação do contrabandista Alejandro Rojas. Encontram um homem suspeito saindo de um prédio de classe média alta, que não esboça reação, mas subitamente saca uma uzi e dá cabo de três soldados americanos, mais um capitão. Por sorte, o sargento Sanderson consegue se abaixar e escapar da rajada de balas que receberam os seus colegas de equipe. Começa, então, uma corrida desenfreada à procura do criminoso que segue pelas ruas da cidade, em meio a ônibus abandonados, pessoas assustadas e carros em chamas, formando uma densa fumaça negra no céu. O sargento alcança o assassino, alveja-o em uma das pernas e o leva para um cativeiro improvisado, onde, com o auxílio de descargas elétricas, falará até o que não sabe.

O cenário de guerra proposto pelo estágio do Rio em Call of Duty é perfeitamente comparável ao enredo da vida. Na pele de um norte-americano adentramos em um território que até nós desconhecemos: os morros, com seus barracos e vielas estreitas. O estágio do Rio é um dos mais difíceis, pois os inimigos se escondem e se esgueiram por todos os cubículos possíveis da favela sem lei, além de espreitar suas vítimas do alto de inúmeras lajes.

Visualmente podemos dizer que as favelas são bem representadas, com uma riqueza de detalhes digna de uma pesquisa no Google Earth. Mas a representação sociocultural ficou relativamente comprometida em alguns aspectos, o que se explica pela influência dos estereótipos e pelo próprio descaso com seus irmãos latinos. Os traficantes, por exemplo, são representados no jogo com óculos escuros e boinas, semelhantes aos guerrilheiros colombianos das Farc. Esses mesmos inimigos gritam coisas (em português) como: “levem as crianças para um lugar seguro” ou “a favela é nossa casa”, o que nos faz acreditar que um traficante é um cidadão preocupado com o bem estar dos seus. Claro, talvez isso se explique como uma espécie de compensação pelo fato dos americanos se mostrarem no jogo como os salvadores da(s) pátria(s) envolvida(s) em conflitos urbanos.

Será que o Rio está no jogo certo?

Parece-me que a série Call of Duty: Modern Warfare está preocupada em retratar conflitos que possuem dimensões político-ideológicas, mesmo as mais fictícias, como as (ainda!) oriundas da Guerra Fria. Os cenários da segunda versão da série compreendem intervenções militares no Afeganistão, na Rússia, na costa leste dos Estados Unidos e no Brasil.

De acordo com o UOL Notícias, os eventos ocorridos durante essa semana no Rio de Janeiro foram classificados pelas autoridades como “atos terroristas”. No entanto, o site ouviu a opinião de especialistas em Relações Internacionais, que concordaram em classificar as ações da semana como “criminosas”, visto que não há motivação política, mas tão somente econômica por parte dos protagonistas.

Dessa forma, pergunta-se: será que o Rio de Janeiro está no jogo certo? Não seria melhor colocá-lo como pano de fundo de games como GTA (o que já foi feito pelos mods), em que as disputas se dão por poder e influência na venda de produtos ilegais, tendo como objetivo a busca pelo prazer imediato da violência gratuita? Pelo sim e pelo não, é sempre muito bom sentir a sensação de resolução, mesmo que “gráfica”, dessa insustentável situação do Brasil. Só  nos resta esperar uma boa renderização do lado de fora da tela.

2 comentários:

  1. Olá Pessoal!!!
    Será que esta no jogo certo? ou será melhor, é o jogo certo? Aproveitando a onda do novo super héroi brasileiro (e oficialmente o primeiro), o capitão Nascimento juntamente com a galera do Bope dariam um enredo e tanto para um Game, limpeza de bueiros, pontos de vendas, trafico de armas, lógico focando somente as coisas ruins sobre o Rio. Mais isso é uma ideia, o jogador poderia ir passando de fase conhecendo (divulgação) e limpando as ruas o Rio de Janeiro, claro que antes passando por um turorial (treinamento) com algumas simulações do Curso especial. Bom que O rio de Janeiro é uma cidade com ar pesado e perigosa isso ninguém pode negar, mais por que, os profissionais do game não desenvolvem um idéia mais nossa, sem esbarrar tanto com estereótipos amaricanizados sobre o Brazil? (a nossa imprensa também ajuda pra caramba para essa imagem fora.

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  2. Eu só achei ruim porque não tinha o botão "Pede pra Sair" nesse jogo.

    :)

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