terça-feira, 18 de outubro de 2011

Vende-se um adaptador de estórias

Fonte: http://www.gameworld.com.br/4855-ARTIGOS-Ideia-de-jogo-GAMESFODA-


"Desde a popularização da televisão, educadores tentam passar aos jovens o hábito da leitura sem muito sucesso. Com o advento dos jogos eletrônicos, essa tarefa se tornou ainda mais difícil. Por outro lado, muitas pessoas começaram a ler quadrinhos por causa de Marvel VS Capcom, assim como muitas pessoas passaram a entender alguma coisa de mitologia grega por causa de God of War. Baseado nisso, sugeri há algum tempo atrás no Twitter uma ideia de jogo que trago hoje de forma expandida pra facilitar o trabalho da CAPCOM e do Ministério da Educação (não precisam agradecer) e ver se eles se animam".
O trecho acima foi retirado da coluna semanal do GAMESFODA, no portal GameWorld. O bom humor de ideias como essa já se refletiram em jogos de luta entre filósofos, figuras religiosas e diante de propostas no mínimo hilárias, podemos refletir um pouco sobre o processo de adaptação entre as mídias. Numa época em que os adaptadores deram lugar aos emuladores, a moda agora é adaptar entre mídias.


Quando falamos em adaptação logo nos lembramos dos fracassos cinematográficos e de algumas poucas experiências que se safaram dentro da relação cinema/videogame. Quando o filme vira jogo a experiência é menos desastrosa do que o contrário. Exceto o caso clássico do game Et: O Extra-terrestre em que o filme homônimo foi transformado em uma terrível adaptação para o Atari, em 1982. Os usuários que compraram o título devolveram os cartuchos aos montes e aqueles que ainda pensavam em comprar deixaram o prejuízo para as lojas. Resultado: pilhas e pilhas de cartuchos enviados para um aterro nos Estados Unidos, tornadas lixo e enterradas como tal. Nascia ali uma crise no setor, conhecida como o crash dos videogames de 1983. Com gráficos tão incipientes, o resultado não poderia ser outro.

Imagem do jogo E.T., do Atari.
Mas vieram novos consoles, novas tecnologias, melhores gráficos, altas definições. E os games de filmes passaram a contar as histórias do cinema fidedignamente, além de trazer elementos novos que ficaram de fora das narrativas audiovisuais, como é o caso do game Enter the matrix, que traz várias sequências fílmicas gravadas com atores reais participantes do filme, e The lord of the rings: the fellowship of the ring, do Playstation 2, que inseriu o personagem Tom Bombadil, presente no livro e ausente no filme. Hoje, as adaptações de filmes como X-Man, Iron Man, Thor, entre outros, não deixa nada a desejar nas telas dos games. Já o contrário...

É difícil adaptar da linguagem dos games para a dos filmes. Aliás, como podemos definir as constituições específicas da linguagem videogame? Uma linguagem que ela própria se adapta o tempo inteiro, diante de novas experimentações dos produtores, de diletantes e aficcionados através dos mods, de criadores que estão fora do eixo comercial e trazem ideias inovadoras e cheias de imaginação em games como Limbo. Um outro problema é que a grande maioria dos bons diretores e roteiristas ainda não acreditam na potencialidade do game e no retorno de bilheteria que um bom filme de um game pode render.

Comix Zone, aclamado game da Era Mega Drive.
O diálogo entre os quadrinhos e os games também é bastante antigo. Do game para os quadrinhos lembramos aqui da adaptação de Tomb Raider, em que a protagonista Lara Croft atuou na revista com a heroína Witchblade. O gibi ficou muito bom, mas rendeu poucas sequências. Na época da produção, a revista Ação Games vendeu algumas de suas edições com gibis da série como encarte promocional. Também não foi muito longe. Já o contrário, do quadrinho para o game, a grande referência é o sensacional Comix Zone, do Mega Drive. O jogo não se baseava em nenhum gibi, mas toda sua estrutura (ambiente, personagens e narrativa) era tal qual uma história em quadrinhos. O personagem principal, um desenhista, é tornado refém do próprio vilão que construiu com seus traços, indo parar no interior da sua história, um tema recorrente.

Bom, e quanto à literatura? Há possibilidade de boas adaptações entre games e livros? Claro, existem as experiências de narrativas interativas, em que o jogador se depara com elementos hipertextuais e hipermidiáticos no decorrer de sua passagem pela mídia. Mas e quanto a tomar uma obra clássica e transformá-la em game? O contrário já vem acontecendo: Resident Evil é um bom exemplo de game que virou livro e, recentemente, a Editora Record editou Assassin’s Creed: Renascença, de Oliver Bowden, com tradução de Ana Carolina Mesquita. O livro já vai em sua 3ª edição e narra fielmente os eventos jogados em Assassin’s Creed 2. Pelo que li (estou na metade do livro) o autor se circunscreve a um estilo mais descritivo para relatar os momentos interativos do game, mas nem por isso a obra se torna enfadonha. Por se tratar de uma aventura, a abordagem mais psicológica ficou em suspenso. Será que o gênero pega?

Particularmente também já conjecturei sobre adaptações de obras clássicas para games, como Os Maias, de Eça de Queirós. Com os gráficos 3D de última geração, veríamos Pedro da Maia em terceira pessoa e experimentaríamos catarticamente sua pulsação nervosa, no momento de seu suicídio, através da vibração de um dual shock. Nadaríamos com Carlos Eduardo quando criança e daríamos bengaladas em Dâmaso quando adulto, através de sequências de botões, tais como as de God of War. Por que não? Não há mercado? Então, dane-se o mercado: invistamos em projetos culturais nacionais através dos games e façamos com que a mídia videogame possa dialogar, também, com o livro (um evento no jogo pode depender do conhecimento de determinada sequência na história literária, o qual só será obtido através da leitura, por exemplo). Porque “é próprio das coisas, a mudança”, como diria o velho Dom Afonso, e quem vos fala com citações literárias é um viciado em games que só não joga mais porque o tempo não deixa.

3 comentários:

  1. Aprendi a gostar ainda mais de História jogando Rome Total War, e percebi que isso pode ser utilizado na educação, essa idéia de transformar grandes obras literárias em games é promissora em um nível educativo. Fiquei imaginando Os Maias sendo jogado na mesma enginner do aclamadíssimo Heavy Rain.

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  2. Outra coisa, parabéns pela premiação do melhor Blog 2011 de games da Paraíba. Abraço.

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  3. Me lembra uma iniciativa que um professor de História da UFCG sempre comentava: uns estudantes de Ciências da Computação estavam com um projeto de fazer um game sobre a Campina Grande do início do século XX, pegando bem a temática do ciclo do algodão. Olha só: um game com os conflitos entre franceses, portugueses e indíos na Paraíba colonial ou com a Batalha dos Guararapes em Recife também seria uma boa. Tem muitos episódios que dariam grandes enredos para games em nossa história.

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