domingo, 10 de abril de 2011

Eu, aplicativo?!


Já não conseguimos suportar um dia sem falar ao celular, sem ligar uma TV, sem jogar um bom game ou mesmo acessar o nosso perfil em uma das inúmeras redes sociais do mundo digital. O que tem acontecido conosco numa era em que as “novas” tecnologias estão cada vez mais imbricadas em nossas vidas? Aumento da individualidade e diminuição nos níveis de socialidade? Uma coisa é certa: implicações culturais e mudanças comportamentais certamente fazem parte do cotidiano do século XXI.

Jaron Lanier
Jaron Lanier (cientista da computação, artista visual e um dos idealizadores da realidade virtual) possui uma visão peculiar dos indivíduos frente aos novos media. Em seu recente Gadget! Você não é um aplicativo, defende que as questões da área das humanidades estão sendo cada vez mais projetadas por softwares, apontando que a web 2.0 possui uma concepção digna de desprezo, promovendo a aplicação da liberdade muito mais às máquinas do que aos usuários. Partindo de um especialista no assunto, os ataques até que soam convincentes.

Você se considera um troll?

Dentre as concepções apocalípticas, o integrado Lanier ressalta que tanta liberdade virtual contribuiu para o crescimento de comportamentos agressivos nas pessoas, refletidos em fóruns de discussões e redes sociais. Quem nunca topou com comentários no Youtube do tipo: “Vai tomar...” ou “Que lixo! Maldita inclusão digital”? Pois bem, os artífices de tais pérolas são denominados por Lanier como trolls, ou seja, indivíduos que adentram as redes para plantar as sementes da discórdia.

Os games online também se configuram como portas de entrada das manifestações desses comportamentos traduzidos em discursos. Os trolls, não os personagens próprios dos Role Playing Games, mas nós, indivíduos protegidos pelo anonimato dos usernames e dos falsos perfis, sugerem estudos e análises voltadas para as causas dessas manifestações e suas implicações durante o jogo.

Pensando as mídias

De acordo com o autor, a modificação de um mínimo detalhe na interface de uma mídia, como a função de um botão, pode alterar totalmente as reações e a padronização comportamental do usuário. Isso sinaliza para uma responsabilidade inerente ao tecnólogo no sentido de pensar a sua criação, como afirma Lanier (2010, p. 19):


Nós, os inventores das tecnologias digitais, somos parecidos com comediantes ou neurocirurgiões, no sentido de que nosso trabalho ressoa com profundas questões filosóficas; infelizmente, temos mostrado há algum tempo que somos péssimos filósofos.

 
A grande mensagem da obra remete à reflexão sobre as mídias contemporâneas como uma tarefa que exige muito mais do que um mero conhecimento técnico, amparado em ferramentas utilitárias e muletas em néon. A análise crítica das tecnologias deve partir de um conhecimento interdisciplinar, próprio da grande área da comunicação e apto a construir discussões complexas para objetos idem. Afinal, o conhecimento ainda não pode ser transmitido de forma intravenosa ou baixado por meio de gadgets.


Referência bibliográfica

LANIER, Jaron. Gadget! você não é um aplicativo: um manifesto. Trad. Cristina Yamagami. São Paulo: Saraiva, 2010.

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